Os últimos raios de sol - O silêncio e a beleza

Era como se estivesse num palco sem sombras, órfã de aplausos... E a distância que a separava do real era tão solitária que lhe permitia ficar ali, sobrevoando o próprio reflexo.

Seu corpo estilizado no branco era página, embora fosse boneca pousada em vitrine estéril. Seu rosto dormia mergulhado na areia de um tesouro.

Seu corpo tatuado no vento branco lhe conferia a pretensa ilusão de ser paz enquanto pudesse. Era como se estivesse num espetáculo à espera de aplausos.

No rosto trazia a cicatriz da tristeza e um solstício de dúvidas pairava no ar. O aposento era suave com suspeitas indelicadas de uma cegueira imaginária, embora seus olhos viam ao longe, pequenas falésias... Poemas talvez, desenhado em um rosto dourado no epílogo de mais um dia.

Não queria heranças nem promessas. Ela nem suspeitava, mas seu corpo era partitura que só a melodia do ocaso poderia delinear... E na fusão explícita ouviu-se a fadiga de um piano solitário, cantando essências na efêmera circunstâncias do voo.

* by Lu Cavichioli