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domingo, 29 de março de 2015

Parábola do Cajueiro e suas aventuras

Amigos, trouxe outra parte das aventuras de nosso Cajueiro que já virou fogueira de São João e encantou transeuntes na estrada da vida.
Compartilhem, obrigada!



O Cajueiro em Berço Esplêndido






De tanto a Sinhazinha olhar  lagartas comendo samambaias ela travestiu-se de rosa e foi deitar ao lado do cajueiro e ali ficou na relva salva pelo mimetismo da terra.

Enquanto isso  o novelo de lã, abandonado dentro do balaio, queria ser borboleta novamente mas parece que sua missão agora era tecer bilros e macramês para presentear o Cajueiro.

Sozinha dentro do balaio, ela ouviu reclamações alheias que tentaram voar nas asas do condor. Atrás do Curandeiro que a estas horas está anos luz  perpetuando seu amor mais que perfeito.

Todos queriam que ele usasse a bota de sete léguas para lá chegar, mas preferiu voar a caminhar, então montou no gavião rei e alçou alhures.

Cabralzinho continua abrindo e fechando gavetas à procura do alvorecer e dos lagos da sua vaidade.

Vamos aguardar que o Gavião- Rei volte com sua majestade o Cajueiro.

Será que a Sinhazinha vestirá roupas de gala?

E o novelo de lã, poderá dormir novamente no casulo? Quem sabe o novelo vire bicho da seda... Enquanto isso eu durmo o sono do justo, sem culpa nenhuma porque eu não gosto de tomar banho em água suja.






terça-feira, 17 de março de 2015

Vãos e entranhas


Não sei explicar, mas as casas têm grande influência sobre mim. Tanto que em meus sonhos elas aparecem com muita frequência.
São casas de todos os tipos, mas eu nunca vejo a fachada, sempre estou em seu interior e lá me aninho em seu útero que me recebe de maneiras sempre inusitadas, por vezes surreais e até grotescas.

Eu sou uma pessoa muito apegada às coisas e pessoas, e as casas, todas por onde passei, morei ou cresci, deixaram marcas profundas em meus vãos.

Depois que perdi meu pai, há 6 meses, a casa perdeu a luz, perdeu o cheiro da gentileza, do sorriso franco e acolhedor. Perdeu a cor, o som e a voz... Cada vez que lá eu volto pra cuidar da mamãe, um caco de pele e carne se desloca de mim, e lá vou eu colar e colar e colar e a ferida dói cada vez mais.

Sou grata a Deus porque conseguimos vender a casa e mamãe virá perto de mim agora... A casa onde saí de noiva, a casa onde corri atrás dos meus primos, onde ri muito com meus tios... A casa onde meus avós vinham de domingo e almoçavam conosco... a casa onde namorei muito com meu marido... A casa que abrigou reveillons e muita alegria e também onde chorei meus mortos.

Acabou. Sim, terminou, viramos a página e ponto parágrafo na outra linha.

Papai ficou na memória, fixou morada nos meandros de meu cérebro de menina que faz lapidar nossa história em meus neurônios de mulher,

A casa em breve terá novos passos, novos rostos a olhar para suas paredes. Sons de novidade se erguerão desde o chão... Talvez marretas e toda sorte de ferramentas dolorosas passará como um trator sobre  uma história cujo epílogo eu não queria escrever.

Lu C.