Todos os Direitos Resevados à Lu Cavichioli

Creative Commons License Todos os trabalhos aqui expostos são de autoria única e exclusiva de Lu Cavichioli e estão licenciadas por Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported License. Não comercialize os trabalhos e nem modifique os conteúdos Se quiser reproduzir coloque os devidos créditos

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Pegadas do Passado




Maria Helena era filha única e sempre foi criada como uma princesa. Cercada de todo mimo e delicadezas, tanto de pai quanto da mãe.

Seu pai sabia dosar de maneira perfeita o mimo e a realidade, mostrando à moça que o mundo fora de casa era bem diferente daquele que ela conhecia. Já a mãe, a enchia de frescuras, super proteção e esquisitices do tipo defende-la perante as outras crianças, criando nela uma espécie de tábua de salvação , ao invés de ensinar e fazer experimentar defesas que fossem de sua própria autoria.

E assim a Maria Helena foi se acostumando com toda essa boa vida e ficou acomodada dentro de casa, só estudando e se divertindo com amigos e namorados.
El vivia no mundo dos sonhos, adorava sair com seus primos, levando-os a um lago que ficava perto da casa deles. Lá as crianças corriam, brincavam de esconder e Leninha ficava sentada na relva observando, sorrindo e tirando fotos.

Nessa época ela tinha 20 anos e tudo que sabia da vida, estava na casa dela, em seus namorados fúteis e que ela dispensava em uma semana , seus familiares e seus passeios aos domingos com suas amigas de colégio.
Pobre Maria Helena, nem sonhava que sua vida daria uma guinada para o sofrimento.

Naquela manhã após ter sofrido choro e sintomas psicossomáticos no dia anterior, ela teve uma espécie de surto, ou pânico. Sua avó não estava mais com ela aquela semana, e ficaria uns 20 dias fora. Filipe acordou cedo e como de costume, tomou seu café da manhã para logo mais pegar o ônibus da empresa. Ela nem dormira, e seu medo aumentara infinitamente tanto que o choro explodiu e o desespero tomou conta dela, implorando ao seu marido que não a deixasse sozinha, porque ela iria morrer.
Ele por sua vez, com toda paciência do mundo lhe dizia:

-Amor, eu preciso trabalhar, não tem como ficar com você. Vai dar tudo certo.... qualquer coisa chama dona Ana, ela tem te ajudado tanto.
_Mas , mas, ela é só uma senhora que cuida do marido doente, o que ela pode fazer?? Já toquei muitas vezes a campainha do apartamento dela, tenho vergonha.
E dizendo isso, agarrou-se à perna de Filipe, sentada do chão, gritando:

-NÃO, NÃO ME DEIXA SOZINHA PELO AMOR DE DEUS!

_Leninha pare com isso, vou perder o ônibus e assim se desvencilhou indo para a porta. Saiu rapidamente.

Maria Helena se viu sozinha, abandonada, desconsolada, apavorada e com uma criança recém nascida que ela não sabia o que fazer com ela.
Sorte que Ana Clara ainda dormia, mas e depois, quando ela acordasse?

Leninha correu para o banheiro e vomitou até quase desfalecer. Sentou-se no chão frio e pôs-se a chorar copiosamente. Então começou a pedir a Deus que mandasse alguém na casa dela, uma amiga, uma pessoa qualquer - sei lá... Ela dizia.
Não tinha nem telefone em casa pra ligar pra avó ou o pai que estava no trabalho. Se quisesse ligar, precisava pedir pra vizinha, a tal dona Ana.

Aquele dia foi o pior da sua vida, e precisou mesmo chamar dona Ana.

(continua)...