Boa leitura!
DO OUTRO LADO DA PONTE
(fragmento da série: DE TODOS
OS BRASIS)
Mestre Noé vivia me
convidando pra conhecer o mangue. Eu era moleque travesso, cabeça cheia de
fantasia, mas as panela lá de casa andava vazia. Minha mãe, coitada, sofria de
dor nas junta como ela mesma dizia praquela vizinhança. Sorte que Dª Ricardina
dava uma mãozinha pra nóis. De vez em quando levava um pouco de feijão e
farinha, uma garrafa de leite e alguns pedaço de pão amanhecido.
A mãe fazia uns trabaio de bordadeira e de vez em quando, as madame rica pedia pra ela fazer bolo de festa mais docinho. Mas demorava tanto pra pedir que a comida acabava e o dinheiro tumbem.
Meu pai, homem forte, trabalhador, tinhoso como o quê, andava viajando pras banda do Seringal. Era caixero viajante, e disse pra minha mãe que ia vortá com a mala cheia de dinheiro e ia tirar nóis tudo da miséria. Isso já tinha mais ou menos 4 anos.
Coitada da véia, ficou a olhá pro horizonte, vê se ainda conseguia enxergá, na miragem do sol, o chapéu do meu pai. Aquele maldito desgraçado! Deve de tê arrumado outra famía e esquecido de nóis.
Ficamos eu mais minha mãe e minha irmã, a Luizinha. Moça esbelta , morena da roça, perna roliça e seio farto. Em todos seus 20 anos, Luizinha nunca tinha namorado. Mas a bicha tava de zóio cumprido num peão que fazia uns servicinho pra Dª Ricardina. Mas a bem da verdade ele espichava o zóio pra ela tumbem. ARA! Nem vem, ninguém bota a mão na mana.
Um belo dia, desses de sol varando a cachola da gente, veio mestre Noé e disse pra minha mãe que tinha me arranjado trabaio, e dos bom.
- Se achegue home - disse a mãe.
Dia dona Nice!
Dia ... O traste do moleque tá se escondendo. Vem cá seu peste.
Corri e me joguei debaixo da cama. Minha mãe que já conhecia minhas fuzarca logo me puxou pelo pé dizendo:
- sai seu muleque duma figa. Mestre Nóe tá lá fora. Vai te levá pro trabaio.
_Que trabaio mãe? Eu quero ajudá a senhora na roça mais a Luizinha.
Que nada, seu tre lê lê.
Nisso eu olhei pras berada da porta e vi as bota suja de lama do mestre. Me arrepiei até a carapinha. Jesus toma conta eu disse assim, por dentro de mim.
Dia seu muleque! Fica em pé logo que tu já tem tamanho de home e braço de estivadô e mão de escavadô. Teu lombo é surrado e é hoje que tu vai comigo pro mangue.
Diacho de mangue nada Mestre. As muié dessa casa necessita de mim. Sou o único home que elas tem.
Por isso mesmo Antoninho. De hoje em diante tu vai ganhar o sustento e ajudá nas despesa da casa. Onde já se viu um home desse tamanho, fica debaixo da cama com medo do batente. ARA SÔ!
E assim, o dia, e a semana (talvez a vida) teria seu recomeço pro Antoninho, menino de seus 15 anos, 1.80 de altura , cara de bonachão e corpo de homenzarrão.
A mãe fazia uns trabaio de bordadeira e de vez em quando, as madame rica pedia pra ela fazer bolo de festa mais docinho. Mas demorava tanto pra pedir que a comida acabava e o dinheiro tumbem.
Meu pai, homem forte, trabalhador, tinhoso como o quê, andava viajando pras banda do Seringal. Era caixero viajante, e disse pra minha mãe que ia vortá com a mala cheia de dinheiro e ia tirar nóis tudo da miséria. Isso já tinha mais ou menos 4 anos.
Coitada da véia, ficou a olhá pro horizonte, vê se ainda conseguia enxergá, na miragem do sol, o chapéu do meu pai. Aquele maldito desgraçado! Deve de tê arrumado outra famía e esquecido de nóis.
Ficamos eu mais minha mãe e minha irmã, a Luizinha. Moça esbelta , morena da roça, perna roliça e seio farto. Em todos seus 20 anos, Luizinha nunca tinha namorado. Mas a bicha tava de zóio cumprido num peão que fazia uns servicinho pra Dª Ricardina. Mas a bem da verdade ele espichava o zóio pra ela tumbem. ARA! Nem vem, ninguém bota a mão na mana.
Um belo dia, desses de sol varando a cachola da gente, veio mestre Noé e disse pra minha mãe que tinha me arranjado trabaio, e dos bom.
- Se achegue home - disse a mãe.
Dia dona Nice!
Dia ... O traste do moleque tá se escondendo. Vem cá seu peste.
Corri e me joguei debaixo da cama. Minha mãe que já conhecia minhas fuzarca logo me puxou pelo pé dizendo:
- sai seu muleque duma figa. Mestre Nóe tá lá fora. Vai te levá pro trabaio.
_Que trabaio mãe? Eu quero ajudá a senhora na roça mais a Luizinha.
Que nada, seu tre lê lê.
Nisso eu olhei pras berada da porta e vi as bota suja de lama do mestre. Me arrepiei até a carapinha. Jesus toma conta eu disse assim, por dentro de mim.
Dia seu muleque! Fica em pé logo que tu já tem tamanho de home e braço de estivadô e mão de escavadô. Teu lombo é surrado e é hoje que tu vai comigo pro mangue.
Diacho de mangue nada Mestre. As muié dessa casa necessita de mim. Sou o único home que elas tem.
Por isso mesmo Antoninho. De hoje em diante tu vai ganhar o sustento e ajudá nas despesa da casa. Onde já se viu um home desse tamanho, fica debaixo da cama com medo do batente. ARA SÔ!
E assim, o dia, e a semana (talvez a vida) teria seu recomeço pro Antoninho, menino de seus 15 anos, 1.80 de altura , cara de bonachão e corpo de homenzarrão.
CRIANÇA TEM CADA UMA!
Quando eu era pequena, minha mãe
insistia em levar-me a velórios. Ela dizia que era importante conhecer
"essas coisas" para eu ir me acostumando. E toda vez que isso
acontecia eu me escondia embaixo da cama. Entretanto, era sempre descoberta,
considerando que o medo era sempre maior que a imaginação.
Logo que chegavamos eu ia demonstrando toda a sorte de caretas bizarras, tantas quantas eu pudesse criar numa última tentativa de fazer minha mãe desistir levando-me embora. Porém, tudo era inútil. Sua mão em meu braço parecia mais uma prensa gigantesca esmagando meus ossos, fazendo-me sentar naqueles sofás toscos e mal-cheirosos. Eu ficava ali horas a fio; aliás, as piores de minha tenra vida. Sem contar, as vezes que precisava me sentar em outra cadeira - a do dentista.
Com os olhos meio revirados e sobrancelhas franzidas, eu olhava aparvalhada e apavorada aquele caixão preto, de alças douradas, que parecia bem maior que o normal. E sempre tendo a nítida e pavorosa impressão que o morto fosse levantar a qualquer momento e sair andando.
Coisas horríveis então começaram a passar pela minha cabeça, e levando a mão na boca eu pensava:
"Nossa! O que seria daquele defunto? Iriam fechar o caixão, enterrar bem lá no fundo daquele túmulo escuro e frio e...como iriam fazer para cortar as unhas dele? Sim, porque o falecido não poderia mais fazer isso, afinal já estava morto e ninguém mais iria vê-lo. Contudo, suas unhas continuariam crescendo, crescendo, e sairiam como farpas através do túmulo, erguendo-se em uma enorme floresta".
Sem pestanejar, eu olhava para aquelas pessoas em volta do caixão, achando que qualquer uma delas teria a solução para este enigma. O mais curioso é que eu não me atrevia a perguntar nada a ninguém, muito menos à minha mãe com medo de levar uns bons tabefes.
O cadáver continuava seu sono e eu encolhia os ombros numa atitude irônica pensando:
"Ah, prá que me preocupar com isso se da próxima vez eu encontraria um esconderijo infalível, ficando livre desses encontros chatos e tristes? Para que me incomodar? Os donos do cemitério que cortassem aquelas unhas, que certamente cresceriam sujas e escuras".
De repente, num gesto de coragem me levantei e do alto dos meus seis anos me aproximei de uma garota que chorava desde a hora que cheguei, cutuquei sua mão dizendo:
- Ei moça, você já cortou as unhas dele hoje?
A bruxa que cozia livros e comia lagartixas com
queijo de cabra
Dia desses resolvi fazer algo diferente e que resultasse em
algo de útil (pra mim mesma), no caso! Acreditem ou não eu fui e fiz aquilo de
útil que eu (esperava) desse resultado. .. E num é que deu!? Ao final da
execução lá estava minha obra: meio torta meio, caolha e um tanto inútil -
concluí!
De nada tinha adiantado meu esforço para tanto, mas nessa
empreitada conheci uma mulher estranhíssima. Sua figura parecia ter saído de um
museu de cera. Tinha olhos grandes, pele amarelada, e cabelo do tipo palha de
aço que exibia o tom cansado do grisalho.
Na ocasião, usava uma boina xadrez , calça jeans e um camisetão. E sua
habilidade em costurar páginas me assombrava. Suas mãos iam juntando folhas
sobrepostas , enquanto agulha e linha faziam seu bailado entre seus dedos.
Descobri mais tarde que ela morava num sótão com o fogo
crepitando dentro de um pequeno caldeirão ao lado da mesa cheia de papéis
abstratos misturados a ervas e incensos certamente comprados em Sallen.
Na parede, em frente à mesa, mais ou menos uns 2 metros de
distância jazia uma pequena vidraça, cuja luz incidia diretamente sobre suas
páginas costuradas. O restante do ambiente era sombrio como os olhos dela.
Tinha um mago como companheiro de cama e mesa. O homem
aparentava seus cinqüenta e lá vai
pedrada . Cabelos desalinhados e ligeiramente brancos, misturados a uma nuance
já grisalha. Barriga proeminente e mãos de artesão. Usava óculos e lia jornais
o tempo todo. Ao ouvir certos comentários do mesmo, pude perceber que era culto
o suficiente para analisar Platão e Neruda.
Era realmente um casal folclórico e inusitado. Ela, a bruxa
de cera ,dizia que tinha lá seus 30 anos (bem vividos) segundo ela e sua vasta
oratória impressa dentro das estações do
ano.
Ela gostava de folhas mortas, desprovidas de clorofila e
fazia do vento seu confidente nas horas mudas da madrugada.
Descobri certa vez que odiava a luz ... Assustador? Para uma bruxa, não, quase nada.
Obviamente não gostava do sol preferindo a chuva dançando na vidraça e o nublar
do céu.
No sótão, ela tinha uma roca de fiar livros, estrelas de
cinco pontas e toda sorte de quinquilharias profanas vindas do submundo da
magia negra. O universo era sua crença e
os elementos, seus deuses.
Festejava luas e suas fases e possivelmente dentro de um
circulo em companhia de seu inseparável pentagrama.
Falei com ela (pessoalmente) duas vezes e foi o bastante pra
eu sair correndo sem olhar pra trás. Devagar, descobrindo seu horror a crenças
e dogmas. Não me admiraria se fosse
iconoclasta.
No fim das contas, acenei para um até nunca mais e corri pro
mundo real.
ERA UMA VEZ...
A
rua mencionada era onde ficava o cemitério. Há muito tempo fatos estranhos
estavam acontecendo. Alguns diziam ouvir uma mulher que cantava canções de
ninar. Já outros, ouviam gemidos estranhos que ecoavam das entranhas dos
túmulos. E naquela noite, Josefina testemunhou outro fato. Talvez o mais bizarro.
Ela nos contava meio sem fôlego, tremendo de susto e medo, enquanto a molecada ria e corria do lado de fora da casa.
Ela nos contava meio sem fôlego, tremendo de susto e medo, enquanto a molecada ria e corria do lado de fora da casa.
_Gente, eu vi! Era uma moça... era ela!! Eu a reconheci.
_Calma, Fina - dizia D.Maricota, a costureira; respire e fale devagar.
A casa continuava cheia de gente, cidade do interior... aquelas coisas...todos queriam ouvir o tal caso. Então, ela continuava:
_Ela vinha em minha direção, estava vestida de noiva. Vocês não se lembram? Da professorinha? Que sumiu no dia do casamento?
Era uma história antiga. Os mais novos estavam boquiabertos e os mais velhos relembravam a triste sina da moça.
Fina resfolegava entre um gole d'água e outro.Chamaram o padre para exorcizá-la, as comadres beatas benziam a casa...
O fato é que no dia do casamento, com todos os convidados instalados na igreja da praça, com direito a bolo e docinhos, o padre em traje dominical, todo garboso, ninguém suspeitava o atraso da noiva, porém estranhavam a não presença do noivo.
Onde estaria o noivo?? Sim, porque atraso é coisa de mulher. É sempre a noiva que atrasa!
Mas naquela noite não havia nem a noiva, e muito menos o noivo.
Soube-se depois que o tal futuro marido havia fugido com a mulher do chefe de polícia. Mas... e a noiva???
Essa sim, desapareceu!!
Depois de muita investigação e algumas pistas óbvias, deu-se a solução para o enigma
.Um caso trágico!
A noiva fora sepultada viva. Deram-lhe um sonífero e a enterraram com a roupa do casamento.
Que tragédia!!!!
E... em noites escuras, vê-se o vulto branco e desolado, de buquê na mão, procurando por seu noivo assassino.
A noiva fora sepultada viva. Deram-lhe um sonífero e a enterraram com a roupa do casamento.
Que tragédia!!!!
E... em noites escuras, vê-se o vulto branco e desolado, de buquê na mão, procurando por seu noivo assassino.
Dona Mocinha
vivia lá pros cafundós onde Judas já tinha perdido tudo e só faltava o
bigode... (mas ele tinha bigode?)
A talzinha
era uma figura daquelas, bem folclóricas. Dessas saídas de um almanaque
distribuído gratuitamente pela farmácia local no largo da matriz.
Seu maior
atributo era a maquiagem que comprava na feirinha da beira de estrada dias de fim de semana. Coisa pouca: batom,
rouge, lápis preto e rímel daqueles bem fubangos , ah e comprava também os compactos de sombra
coloridas e o pó de arroz pra mor de
ficar mais bela do que já era.
Os
vestidinhos de chita eram sempre muito floridos, mas pareciam mesmo toalhas de
mesa . Fazer o que né... Ela gostava!
Toda tarde
ficava horas na vitrine do peitoril de sua janela olhando os moçoilos que saíam
das fábricas e lhes sorriam gentilmente apertando o passo quando passavam por
ela. Mesmo porque, ela se debruçava, empunhando os peitos como pedúnculos em
flor. Era nojento de ver.
Os cabra safados
(os mais velhos), os lobi(somens), a
comiam com os olhos. Mas ela gostava mesmo era dos jovens e de alguns
estrangeiros que às vezes por lá passavam em viagem.
Ela
trabalhava na tecelagem da cidade e nas horas vagas se reunia com os poetas do
cordel pra rabiscar e rebuscar palavreados.
Mas ela
gostava mesmo era de galopar e seu cavalo (tão participativo ele), que fazia versos com ela.
Um belo dia
ela ganhou um espelho e foi aí então que tudo mudou em sua vida porque ela
nunca tinha visto aquele treco “praquelas”bandas. Ela costumava refletir mesmo sua imagem nas
panelas que Anastácia areava com sabão de babaçu.
Desde aquele
dia, Dona Mocinha ficou mais vaidosa e sabem que ela se deu bem?
A cidade
elegia nesse momento o novo prefeito da cidade. Solteirão, montado na grana (do
povo, claro) carrão último tipo...
Era metido
demais o sujeito,porém sua figura era folclórica. Vestia-se sempre como um
arco-íris, quando a calça era amarela o paletó era roxo, a camisa lilás e a
gravata alaranjada. Usava sempre um chapéu , que dizia ele era um panamá... ah, tá?
Os sapatos eram sempre de
verniz coloridos ou não dependiam de como estava a cachola dele naquele dia.
Certa noite resolveu passear na praça e lá estava dona mocinha na
janela distribuindo sorrisos e uma máscara de maquiagem que mais parecia um
boneco de ventríloco. E num é que o prefeito ao vê-la caiu de amores?
E assim Dona Mocinha , que era um doce já meio passado na vitrine,
virou sobremesa requintada na mesa do político.
... Coisas da vida!
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